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Barbárie de Queimadas: após 12 anos do crime, mentor do estupro coletivo e feminicídio é recapturado


Eduardo dos Santos, mentor do estupro coletivo conhecido como 'Barbárie de Queimadas', é recapturado no RJ. Desde o dia 17 de novembro de 2020, Eduardo dos Santos Pereira, condenado a 108 anos de prisão pelo estupro coletivo de 5 mulheres na cidade de Queimadas, estava foragido. Ele saiu caminhando pelo portão lateral do presídio de segurança máxima da Paraíba, o PB1, localizado em João Pessoa, capital paraibana. Um agente poderia ter facilitado a sua fuga e desde então foram mais de três anos de espera para que a justiça pudesse encontrá-lo.

Na manhã da terça (19) de março deste ano, Eduardo dos Santos foi preso em uma casa alugada no município de Rio das Ostras (RJ). A informação veio da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (DRACO) da Polícia Civil da Paraíba.

Quatro policiais penais estavam presentes no momento da fuga e prestaram esclarecimentos à Polícia. Apenas um foi autuado por facilitação.

Relembre o caso

Um estupro coletivo planejado contra cinco mulheres em uma festa de aniversário resultou na morte de duas delas, na madrugada do dia 12 de fevereiro de 2012, em Queimadas, no Agreste da Paraíba.

Dos dez homens envolvidos na noite do estupro coletivo e feminicídio de duas mulheres – a professora Izabella Pajuçara e a recepcionista Michele Domingos – apenas um permanecia preso em regime fechado, segundo o advogado da família de Izabella.

No dia da festa, 11 de fevereiro, um sábado, a professora Izabella Pajuçara, de 27 anos, compartilhou em suas redes sociais uma música oração de São Jorge, que diz "eu andarei vestido com as armas de Jorge, para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo os olhos não me vejam e nem em pensamento possam me fazer mal".

Conforme a irmã dela, Izânia Pajuçara, talvez a professora estivesse sentindo de alguma forma a necessidade de proteção divina. Já a recepcionista Michele Domingos, de 29 anos, antes de ir para a festa foi à igreja com a irmã mais nova de Izabella, que, segundo a delegada do caso, Cassandra Duarte, seria o alvo inicial do estupro coletivo planejado.

As cinco mulheres não imaginavam que seriam as vítimas de um estupro coletivo dos homens que chamavam de amigos. Conforme as investigações, os abusos foram planejados pelos irmãos Luciano e Eduardo dos Santos Pereira, que teriam convidado outros homens para abusar sexualmente das convidadas na festa de aniversário de Luciano. Segundo informações contidas no processo, o crime seria um “presente” para o aniversariante.

Na casa estavam sete mulheres, nove homens e três adolescentes. Eduardo e Luciano organizaram a festa, convidaram as vítimas para o evento e se dirigiram a um mercado para comprar cordas e lacres do tipo 'enforca-gato', com o objetivo de amarrar as vítimas e forçar relações sexuais.

Para realizar o estupro coletivo, por volta da meia-noite, Eduardo e Luciano forjaram um assalto e entraram encapuzados na residência durante a festa, com os três adolescentes e mais cinco dos homens que estavam no local.

Os envolvidos nos abusos combinaram que, durante a festa de aniversário, três deles apagariam o sistema de energia e invadiriam a casa com máscaras de carnaval se passando por assaltantes para poder render as vítimas e, depois que elas fossem amarradas e vendadas, todos iriam estuprá-las.

Os outros dois homens que estavam na festa foram vítimas, e as esposas deles estão entre as cinco abusadas. As duas mulheres que estavam na residência e não foram alvo do estupro coletivo são justamente as esposas de Eduardo e Luciano.

Enquanto era estuprada, Izabella teria se debatido e conseguido identificar Eduardo como um dos estupradores. Em depoimento, um dos suspeitos revela os pedidos da vítima que reconheceu o agressor e pediu para não ser estuprada. "Tanto que eu fiz por você! Não faça isso não! Pare, minha mãe não aguenta isso não”.

A partir daquele momento, os abusos foram interrompidos, e os homens fugiram de carro levando Izabella Pajuçara e Michele Domingos, que também estava no quarto no momento e, portanto, teria ouvido a fala da amiga reconhecendo o estuprador.

Michele chegou a pular do carro em movimento, mas recebeu quatro tiros, sendo dois na cabeça, em frente à igreja Matriz, no Centro de Queimadas, mesma igreja onde participou da missa na noite anterior. Ela ainda foi levada ao hospital da cidade, mas não resistiu aos ferimentos. Já Izabella foi encontrada com uma meia dentro da boca na estrada que liga Queimadas a Fagundes, dentro do carro usado na fuga dos criminosos. Ela foi atingida por três disparos.

A família de Izabella conta que ficou sabendo do suposto assalto quando a irmã mais nova, que também estava na festa, chegou aflita contando o que havia acabado de acontecer e que os criminosos teriam levado Izabella e Michele. As buscas foram iniciadas, mas logo os familiares começaram a desconfiar dos envolvidos, pois teriam percebido uma "frieza".

Quando o dono da festa foi dar queixa do assalto na delegacia, a polícia começou a desconfiar da reação dele. “Como é que um crime tão bárbaro que aconteceu na sua residência, durante um aniversário de um irmão seu, meia hora depois você está sorrindo?”, questionou o delegado regional André Luis Rabelo de Vasconcelos.

Um dos suspeitos, de 28 anos, chegou a ir ao velório de Izabella, onde foi preso.

Depois daquele dia, os familiares das vítimas iniciaram uma grande batalha por justiça, enquanto buscavam lidar com o luto. A mãe de Izabella, inclusive, entrou em depressão e passou oito anos em sofrimento profundo, com dificuldades para sair de casa, até quando morreu em 2020.
    

A 'Barbárie de Queimadas' interrompeu a vida de duas mulheres que eram profissionais, filhas, irmãs e amigas.

Izabella Pajuçara, de 27 anos, em poucos dias seria empossada em um concurso público que teria sido aprovada em primeiro lugar. Familiares relatam que a professora de química dividia seu tempo e rotina diária entre lecionar, estudar para concursos, cuidar da família, estar entre amigos e se cuidar, pois era muito vaidosa.

Já Michele Domingos era recepcionista. Com 29 anos, era a mais velha de seis irmãos e, além de ajudar nas contas, era consultada sobre as decisões da família, pois conforme a mãe dela, Maria José Domingos, era uma pessoa que "sabia resolver as coisas". Ela era a primogênita na família, sendo a primeira filha da sua mãe, primeira neta dos avós e primeira sobrinha de seus tios.

"Ela me ajudava muito com os irmãos e até eles obedeciam à ela. Era uma pessoa forte, determinada, estava sempre me ajudando nas coisas de casa, da família, na educação dos irmãos", relembra a mãe.

Michele tinha muitos amigos na cidade e era muito querida na família. A mãe relata que até hoje, sempre que algum assunto familiar precisa ser resolvido, falta a opinião da filha.

Depois do crime, Maria José passou a evitar ir à feira aos sábados, pois costumava fazer isso na companhia da filha. As duas também adoravam preparar almoços especiais nos fins de semana. Apesar de tentar seguir em frente, o vazio da presença de Michele fica até hoje.

Em 2014, Eduardo dos Santos Pereira foi condenado a 108 anos de prisão. Ele foi considerado culpado por dois homicídios, formação de quadrilha, cárcere privado, corrupção de menores e porte ilegal de arma, além dos cinco estupros. Por estes crimes, ele foi condenado a 106 anos e 4 meses de reclusão. Além disso, ele recebeu uma pena de 1 ano e 10 meses de detenção pelo crime de lesão corporal de um dos adolescentes envolvidos no crime.

Luciano dos Santos Pereira, irmão de Eduardo, foi condenado a 44 anos de prisão. Ele segue em regime fechado. Jacó Sousa foi sentenciado a 30 anos de reclusão, por estuprar duas mulheres e participar no abuso das outras três vítimas. Ele foi assassinado quando voltou à cidade do crime, depois de ter direito à liberdade condicional.

Diego Rego Domingues foi liberado para cumprir a pena de 26 anos e seis meses no regime semiaberto, na Penitenciária de Segurança Média de Mangabeira, em João Pessoa.

Fernando de França Silva Júnior, vulgo 'Papadinha', foi condenado a 30 anos de prisão. Luan Barbosa Cassimiro deve cumprir 27 anos de reclusão, pela violência sexual praticada contra uma vítima e participação no estupro das quatro demais. Já José Jardel Sousa Araújo foi condenado a 27 anos.

O advogado da família de Izabella afirma que o Luciano está preso em regime fechado e deve sair em breve, pois trabalha na prisão. Os adolescentes já cumpriram medida sócio-educativa no Lar do Garoto, no município de Lagoa Seca, Agreste do estado.

Fuga de Eduardo


Eduardo fugiu da Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes de João Pessoa, conhecida como PB1, no dia 17 de novembro de 2020. No momento da fuga, quatro policiais penais faziam a segurança do setor e foram encaminhados à Central de Polícia para prestar esclarecimentos. Um deles foi autuado por facilitação culposa e, em seguida, liberado.

A Secretaria de Administração Penitenciária informou que há um Procedimento Administrativo Disciplinar, todavia, um dos servidores indiciados foi acometido por um AVC.

De acordo com a Secretaria de Estado Administração Penitenciária (SEAP), as ações de recaptura do Eduardo, desde o dia da sua fuga, vinha ocorrendo de forma integral entre todos os órgãos que compõem a segurança pública do Estado da Paraíba.

Sensação de impunidade

“O sentimento de nossa família hoje é de vazio, são 12 anos de saudade, durante essa década não nos acostumamos a conviver com a ausência delas. Minha irmã transbordava em vida, tinha muitos planos, era uma jovem com um futuro promissor”, disse um dos familiares de Izabella Pajuçara.

Segundo a família, a presença da professora ainda é muito viva. A vítima tinha acabado de passar em um concurso público estadual para professora de Química, após trabalhar 10 anos como prestadora de serviço, antes de ser assassinada.

“Esse sentimento de vazio é constante, porque falta um ente querido de nossa família, em todos os encontros familiar que realizamos, não tem mais o mesmo sentido. Quanto ao fato em si, fizemos tudo que estava ao nosso alcance para que os envolvidos fossem responsabilizados”, afirma.

Falta de mobilização

Em novembro de 2020, o Governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado da Segurança e Defesa Social da Paraíba (SESDS), informou que iria acionar a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícias de outros estados do país, além de órgãos de sistema de inteligência, como a Interpol, para recapturar Eduardo dos Santos Pereira.

O irmãos Eduardo e Luciano, que planejaram todo o estupro coletivo, são cariocas, mas filhos de paraibanos de Queimadas. Em outro inquérito aberto na época, a polícia investigava a ligação deles com o traficante Nem, do Rio de Janeiro, considerado um dos maiores traficantes de drogas do país.

Na época das investigações, o delegado Fernando Zoccola, de Queimadas, apurou também que os irmãos apontados como mentores do crime seriam foragidos da Justiça do Rio de Janeiro.

Eduardo dos Santos e Luciano dos Santos, conforme as investigações da polícia, morariam na Rocinha, mesma favela que até um ano antes da Barbárie de Queimadas era ocupada e dominada pela quadrilha do traficante Nem, que também teria origem paraibana.

Com a apreensão de uma das motocicletas de Eduardo Santos, uma Honda CB600, de cor azul e branca e placa OFB-2210, foi descoberto que, cerca de oito meses do crime, o ‘Nem da Rocinha’ teria sido visto na Paraíba, na região de Queimadas, transitando em uma motocicleta também de 600 cilindradas, do mesmo modelo e da mesma cor.

Eduardo tinha um alto padrão de vida com carros novos e cavalos de raça, porém não trabalhava, segundo apuração do Fantástico.

Apesar das ‘coincidências’, o delegado regional de Campina Grande, André Rabello, evitou dar detalhes da investigação na época. Segundo ele, um levantamento identificou que a moto apreendida com Eduardo Santos teria sido comprada com o pagamento em espécie de uma alta quantia em dinheiro.

Fontes de matéria: g1 e brasildefato

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