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Pobre do pobre de Direita


A conceituação do pobre de Direita é a própria aberração engendrada nos meios de comunicação – que se não idiotizam – ao menos alienam. Domesticados para atacar, muitas vezes têm as suas correntes presas às mãos dos patrões ou a um pensamento ideológico atrofiado.

Dos mesmos autores de ‘Bolsa Família é esmola’, ‘política de cotas é privilégio para os negros’ e ‘pobre em aeroporto é um absurdo’, vem aí o novo ideário da Direita brasileira: o pobre que não gosta de pobre. No espectro político, ele está no penúltimo degrau da escada social, submetido aos trabalhos pesados, mas vive ainda dos usufrutos do estado de bem estar social, promovido pelos últimos governos.

O pobre de Direita é contra as cotas raciais nas universidades públicas. Subentende que pobre e negro deve pagar os seus estudos, pois, ao aderir a uma política de concessão do estado, estaria contribuindo com a discriminação. Ele, pobre e negro, não consegue compreender a condição de excluído da sociedade, a histórica subserviência da classe, a escravidão dos seus antepassados que durou 300 anos e foi a última a acabar no mundo.

O pobre de Direita não compreende o que é política de Direita ou de Esquerda. Conceituado assim porque adere a pensamentos conservadores e neoliberais (que ele também não compreende), este cidadão absorve das premissas do contexto político um lugar que é seu por osmose. Muitas vezes submete-se a um contexto familiar, a uma conjuntura no espaço de trabalho, a qualquer motivo que não seja a capacidade ideológica, racional e consciente de decidir e de militar.

 

O pobre de Direita é contrário às políticas sociais. Possivelmente passou fome ou viu alguns dos seus passar; ou atravessou um mar de necessidade, nos tempos em que o governo estendia a mão e junto o cabresto. Viu crianças morrerem desnutridas e outras nascerem mortas. Viu o suplício do nordestino com a seca e a morte dos seus rebanhos. Viu o retirante partir para as grandes cidades, molambento, para se humilhar nas portas das fábricas.

‘Bolsa Família é esmola’ virou mantra fundamental. Para além das ideias conservadoras, era mais importante congelar investimentos em Saúde e Educação durante 20 anos, do que reajustar um auxílio social. Era preciso cortar. Porque pobre tem que trabalhar. Pobre tem que morrer trabalhando. Sem direito a aposentadoria e sem o direito a um trabalho digno. Isso é conversa de comunista.

O pobre de Direita é o perdigueiro da classe média, que é o perdigueiro da elite. Atiçados para aderir a uma ideia que no fundo só os prejudicará, seguem os roteiros da matilha do neoliberalismo, do estado mínimo, da ruptura democrática. Não são teleguiados totalmente, mas se submetem a discursos e notícias falsas que vicejam nas redes sociais. Ele é a representação do telespectador modelo concebido pelo William Bonner: um Homer Simpson.

Ao pobre de Direita não interessa saber o que é presunção de inocência porque isso pode beneficiar aquele a quem considera um adversário político. Mas se indigna quando a polícia invade a sua casa; quando revista a mochila dos seus filhos a caminho da escola; quando as forças do estado revistam os seus bolsos e, não encontrando nada, atiram os seus documentos no chão. Para se agachar. Para se sentir um trapo humano.

O pobre de Direita tem uma ética caolha que não o permite enxergar a corrosão do sistema político por inteiro. Que a corrupção é sistemática, muitas vezes representada socialmente pelo que chamamos de ‘o jeitinho brasileiro’. Furar fila, fraudar testes para obter a CNH, fraudar institutos para receber diplomas e certificados, adulterar, corromper, subornar, ludibriar.

O Brasil é o único país do mundo onde prostituta se apaixona, cafetão sente ciúmes, traficante se vicia e pobre é de direita. Atribui-se esta frase a Tim Maia, cantor e compositor morto em 1998.


O fato é que o Brasil não vai melhorar enquanto pobres (classe trabalhadora) divergirem entre si sobre Direita e Esquerda. Porque a Direita brasileira não diverge. Quando quer destituir um governo, por exemplo, ou criar leis que venham tirar direitos e benefícios dos mais necessitados, mídia, políticos e elite aderem a um só discurso e, conseguem sempre adesão, principalmente de alguns daqueles que deveriam ser seus principais adversários, negros-pobres-trabalhadores.

Pobre de Direita é barata fazendo propaganda para inseticida.
  
"Vomitei ao sentir cheiro de pobre", disse Rafael Greca, político curitibano em entrevista, no período das eleições de 2016, em Curitiba, Paraná.

Durante uma sabatina realizada na PUC do Paraná, o candidato à prefeitura de Curitiba Rafael Greca (PMN) disparou uma frase polêmica. Perguntado sobre o que faria, caso eleito, em relação ao crescimento do número de moradores de rua na cidade, Rafael Greca disse: “Eu nunca cuidei dos pobres, eu não sou São Francisco de Assis. Até porque a primeira vez que tentei carregar um pobre e pôr dentro do meu carro eu vomitei por causa do cheiro”.

O candidato do PMN Rafael Greca foi eleito prefeito de Curitiba, capital do Paraná, no domingo 30 de outubro de 2016. O resultado saiu às 17h31, com 94% das urnas apuradas. Ao final da apuração, Rafael Greca tinha 461.736 votos, que representam 53,25% dos votos válidos. Ele venceu Ney Leprevost (PSD) e assumiu o cargo em janeiro de 2017.


Negro tem o dobro de chance de ser pobre no Brasil, diz Ipea

No Brasil, a chance de um negro ser pobre é o dobro da de um branco.
A conclusão é da pesquisa "A desigualdade racial da pobreza no país", divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão de pesquisa do governo) com base em dados de 2004 a 2014. Segundo o levantamento, a chance de um preto ser pobre era de 2,1 em relação a um branco em 2014.
O estudo aponta entretanto que a desigualdade racial entre os pobres foi reduzida nesse período. "Persiste elevada, a despeito de ter havido redução no período, tanto da desigualdade de brancos em relação a pretos e pardos quanto da desigualdade entre pretos e pardos”, afirma o estudo.

Ao considerar dados até 2014, a pesquisa não reflete os possíveis impactos da crise econômica que atingiu o país a partir daquele ano, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Os dados-base para o estudo foram as PNADs (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Para o IBGE, a soma de pretos e pardos compõem o grupo de negros. A pesquisa do Ipea, entretanto, faz recorte dividido entre os dois subgrupos. Autor do estudo, Rafael Guerreiro Osori explicou porque os pardos são mais vítimas da pobreza que os pretos.

"No Brasil, a gente tem uma composição racial muito diferente ao longo do território. No Norte e no Nordeste, onde a população é mais pobre, você tem mais pretos e pardos. A proporção de pretos varia bastante de estado a estado, mas ela varia um pouco menos que a de pardos, ou seja: a proporção de pardos varia mais no Norte e no Nordeste. Como a pobreza está muito concentrada nas regiões, há essa diferença”.

Osório acredita que, apesar de na década estudada ter existido redução da pobreza, as diferenças raciais poderiam ter sido mais reduzidas, e que a distância entre as raças ainda chama a atenção. "A queda foi de tal ordem que, em 2014, os pretos e pardos se aproximaram dos níveis de vida de um branco em 2004.
O que aconteceu é que eles chegaram onde os brancos estavam no começo da década", relata.

O trabalho, entretanto, não investigou as causas dessa redução. Mas para o autor, há hipóteses de que a redução se deva a um conjunto de fatores econômicos. "É possível constatar que, tanto para pretos quanto para pardos, não houve apenas redução da pobreza, mas também da desigualdade de oportunidades de escapar da pobreza, em relação aos brancos."

O estudo mostra que, quanto mais pobre, maior foi a redução da desigualdade. Para quem vive com menos de US$ 1 ao dia, a desigualdade caiu de 20% a 40%. Para as linhas em torno de US$ 3, a queda foi menor, em torno de 10%. De US$ 4 em diante, nota-se maior redução da desigualdade entre pardos e brancos, aponta o estudo. Os valores usados para o dólar têm como base dezembro de 2011, com valor corrigido hoje para R$ 5,05. O pesquisador conclui que o Brasil ainda é marcado por profundas desigualdades. "O mundo ideal é aquele em que todos têm a mesma chance de ser pobre e de escapar da pobreza, e isso está longe no Brasil. De um modo geral, ela continua muito maior entre pretos e pardos aqui", afirma.


Fontes: Pragmatismopolitico/ por Por Mailson Ramos e reeditado by Boninho Klayver/noticias.uol